Cafés Especiais

Contexto animador do mercado de café

Os ventos sopram a favor dos produtores de café, com recorde de exportação, colheita maior, câmbio favorável e preços elevados. De antemão, o ano-safra 2023/2024 terminou com 47,3 milhões de sacas de 60 kg vendidas para o exterior. Ou seja, alta de 32,7% em comparação com o ciclo anterior, de julho de 2022 a junho de 2023. O volume, nesse sentido, supera em 3,6% o de 2020/2021, até então o mais alto. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Assim, a receita em dólar foi a mais alta da série histórica, iniciada em 1990: US$ 9,83 bilhões, 21% a mais que no ano-safra anterior. A reportagem, que demonstra o contexto animador do mercado de café, é do Valor Econômico.

“Prevíamos uma safra melhor, mas ninguém poderia prever níveis recordes de exportação”, diz o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.

Aliás, ele atribui parte do resultado à alta das cotações internacionais do produto. “Existe um ditado que diz: o que faz o café aparecer é o preço”, afirma.

E de preço baixo os produtores não podem reclamar. Na Bolsa de Londres, a cotação do café do tipo robusta disparou 63% de novembro passado a junho. Na Bolsa de Nova York, o arábica subiu 29% no mesmo período.

Mercado de café

Impulsionado pelo clima favorável e pela bienalidade positiva – no café há alternância anual entre safras mais e menos volumosas –, o total produzido em 2024 deve ficar 6,8% acima da colheita de 2023. Isso segundo a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgada em maio. Pela previsão, serão 58,81 milhões de sacas beneficiadas – volume que, apesar do aumento, ainda fica abaixo do recorde de 2020, de 63 milhões de sacas.

“Depois do recorde de 2020, o Brasil enfrentou uma série de problemas climáticos que limitaram a produção nacional”, diz o engenheiro agrônomo Fábio Silva Costa. Primeiramente, ele é analista da Conab e menciona a geada em julho de 2021 e períodos de seca, que afetaram a lavoura em 2021 e 2022. “Em 2023 e 2024, a produção teve melhoras, mas ainda está abaixo de 60 milhões de sacas, longe do máximo potencial produtivo das lavouras”, pondera.

Mercado interno

Mesmo com o avanço na produção deste ano, pois, os preços no mercado interno estão em alta. Na avaliação do especialista da Conab, isso decorre da combinação do dólar caro, que incentiva as exportações e reduz estoques internos. E, ainda, da maior demanda pelo café brasileiro no exterior.

“Importantes países fornecedores, como Vietnã e Indonésia, foram afetados pelo El Niño, abrindo mais espaço para o café brasileiro”, emenda Ferreira.

Com o mercado comprador no exterior, a saca do arábica de Minas Gerais ficou 55% mais cara de novembro a junho no Brasil. No tipo conilon, do Espírito Santo, a variação foi de 79%. Inclusive, na visão dos dois especialistas, nada indica que os preços vão cair tão cedo. “Os fundamentos para a manutenção do preço neste patamar são muito fortes”, afirma Costa. “Não estamos observando redução de preço, principalmente em razão da queda da produção da Ásia.”

Colheita no exterior

A princípio, as colheitas menores no exterior têm impacto nas provisões internacionais, inferiores à média histórica. Ferreira argumenta que, apesar de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês) projetarem alta de 7,7% para os estoques mundiais ao final da safra 2024/2025. Isso em relação ao ciclo anterior, o volume estimado de 25,8 milhões de sacas ainda é o segundo menor em 10 anos.

Ademais, o mercado financeiro pressiona as cotações. “A ação dos fundos especulativos tanto na Bolsa de Nova York como na de Londres, que vêm mantendo substanciais posições compradas, contribuiu muito para preços recordes no robusta e no conilon. E também com preços muito significativos no arábica”, afirma.

E resume: “O mercado hoje está na mão dos fundos e dos produtores e vai contra o consumidor do ponto de vista dos países importadores”.

Compradores de café

Nesse cenário, sobretudo, os 10 principais compradores de café do país ampliaram suas importações do Brasil no ano-safra 2023/2024. Isso em comparação com o ciclo anterior. Assim, a maior fatia das vendas vem dos Estados Unidos, com 14,9% do total.

A seguir, vêm Alemanha (13,8%) e Bélgica (8,2%). Sétima colocada no ranking, com 3,2%, a China foi o país com maior evolução no volume importado, com crescimento de 186% na comparação com a safra anterior.

“A China tende a ser o grande novo mercado de café do Brasil”, diz o economista Laudemir Müller. Ele é gerente de agronegócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

China

Para incentivar negócios com o país asiático, a agência promove tanto visita de compradores chineses ao Brasil como de produtores brasileiros à China. Isto é, em parceria com a Brazil Speciality Coffee Association (BSCA).

Dessa forma, a iniciativa rendeu o acordo com a maior rede de cafeterias chinesa, Luckin Coffee, com 19 mil unidades naquele país. O acerto do mercado de café prevê a compra de 120 mil toneladas do grão brasileiro pela rede, no valor de cerca de U$ 500 milhões. Acima de tudo, a cifra supera, com um só cliente, toda a exportação do produto no ano passado para a China, de R$ 280 milhões.

Entre os lotes comprados pela megarrede chinesa estão o grão produzido pelos indígenas da etnia Paiter-Suruí, de Rondônia. “Cresce pelo mundo o interesse pelo café com história da origem para contar”, afirma Müller.

Nesse contexto, os cafés diferenciados – aqueles de qualidade superior ou certificados por práticas sustentáveis – responderam por 18,6% das exportações totais brasileiras do produto da safra 2023/2024. Ou seja, um crescimento de 45,4% em relação ao ciclo anterior.

“O que vem ajudando muito as vendas é o fato de que quase todas as cooperativas têm departamentos de café especial”, diz o diretor-executivo da BSCA, Vinicius Estrela.

Cooxupé

Maria Dirceia Mendes, gerente comercial e administrativa da SMC

É o caso da Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo, com 19 mil famílias cooperadas. Sobretudo, dona de uma empresa dedicada ao segmento, a SMC. Em 2016, quando criado o programa de identificação de cafés especiais em parceria com a Cooxupé, foram comercializadas perto de 10 mil sacas, produzidas em cerca de 60 propriedades.

Em 2023, primordialmente, o número já havia disparado para 113.965 sacas, de cerca de 1.200 famílias. Para elas, o preço de venda costuma ficar de 10% a 30% acima do obtido pelo café convencional. Variação que, conforme a pontuação do produto, pode chegar a 150%, como informa Maria Dirceia Mendes, gerente comercial e administrativa da SMC. Recentemente, ela esteve na China em busca de novos clientes, para expandir o mercado de café.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Como você achou esse post útil...

Sigam nossas mídias sociais

Lamentamos que este post não tenha sido útil para você!

Vamos melhorar este post!

Diga-nos, como podemos melhorar este post?

Deixe uma resposta

Botão Voltar ao topo